Essência do Vinho 2022



A Essência do Vinho é provavelmente a maior feira anual de vinhos do país onde é possível conhecer o que de melhor se vai fazendo em Portugal a nível de vinhos. É sempre uma excelente oportunidade para conhecer os produtores, aprender, trocar ideias e claro, provar vinhos.

Na edição de 2022, cerca de 200 produtores marcaram presença, o que torna complicada a tarefa de fazer uma boa selecção de quais os stands a visitar e quais os vinhos a provar. Sem grande preparação prévia, a estratégia adoptada foi: tentar fugir dos vinhos óbvios e mais conhecidos - que continuamos a adorar mas que mais facilmente se provam noutras ocasiões - e começar com brancos e terminar com tintos.

Dada uma primeira volta de reconhecimento ao lindíssimo Palácio da Bolsa de copo vazio, a primeira paragem foi no stand Vinhos dos Açores onde provamos o Ameixâmbar Branco da Ilha do Pico, onde os aromas tropicais e minerais saltam à vista mas menos exuberante do que outros vinhos brancos açorianos que já provamos anteriormente. Provavelmente com esta ideia na cabeça seguimos de imediato ao stand dos Irmãos Maçanita para fazer a prova dos nove com o Arinto dos Açores, um branco seco, com aromas tropicais muito pronunciados assim como a mineralidade vulcânica muito marcada, acidez alta e um final longo.

Hora de voltar ao continente, região do Alentejo, banca da Reynolds Wine Growers, onde provamos o Carlos Reynolds Branco, um blend de Arinto e Antão Vaz e ainda o Reynolds Arinto, um monocasta de Arinto. O primeiro é um vinho muito frutado, rústico de acidez equilibrada, o segundo é muito mais suave onde se destacam os aromas frutados e a frescura dada pela alta acidez.

Subimos ao Douro para uma prova que envolveu dois brancos de dois produtores diferentes mas que partilhavam o mesmo stand. Começamos pelo Quinta das Brôlhas Branco, um vinho muito aromático, frutado, seco e de boa acidez produzido na zona da Régua. Comparamos depois com o Dona Berta Branco, produzido no Douro superior, extremamente aromático, boa acidez e final longo. Suave e aveludado. Um bom exercício para perceber as diferenças de terroir do alto e do baixo Douro.

Descendo novamente ao Alentejo, fizemos uma paragem demorada no stand Vicentino, produtor que se orgulha de estar na última aldeia da costa Alentejana antes de avistarmos o Algarve. Aqui fizemos uma espécie de prova horizontal que incluiu 3 brancos e 2 rosés. O Vicentino Branco, o blend do produtor, é um vinho equilibrado mas que não se destaca por nada em especial. Frutado, fácil de beber mas não deslumbra. A partir daqui foi sempre a subir. Vicentino Alvarinho - é preciso saber usar castas típicas de regiões mais frescas e húmidas no Alentejo, é o caso! Resulta num vinho muito bom, frutado, mineral, de acidez equilibrada e distinto dos Alvarinhos da região do Vinho Verde. Foi nos explicado que o terroir onde está plantado o talhão de Alvarinho sofre influencia do clima fresco da costa e ainda dos ventos da serra algarvia o que permite a sua plantação e maturação. Daqui seguimos para o que para nós foi o melhor branco provado durante a nossa visita ao Essência do Vinho 2022, o Vicentino Sauvignon Blanc que tem um aroma vegetal muito vincado, é possível sentir o aroma a folhas frescas, algum eucalipto e ainda aromas minerais. Um excelente vinho que vai entrar para a nossa shortlist. 

Seguimos ainda para o a prova de dois rosés, o Vicentino Rosé Naked e o Vicentino Rosé Superior. Ambos feitos com Pinot Noir, destaca-se a delicadeza do Rosé Superior com estágio em madeira, a começar pela cor pálida, notas suaves de frutas cítricas, acidez equilibrada e um final com a evidência da madeira. Valeu a pena a demora por este stand.

Seguimos a viagem para o interior do Alentejo, paragem na Adega Mayor. Apesar de já conhecermos bem os vinhos deste produtor, faltavam 2 referências na caderneta. Começamos por provar o Altitude Comendador Branco, produzido a partir de vinhas velhas plantadas na Serra de São Mamede apresenta um perfil aromático complexo, bastante cítrico e que não nos remete para o típico vinho branco do Alentejo, uma boa surpresa. De seguida provamos o Adega Mayor Espumante Bruto, que tem produção apenas a cada 2 anos e que se apresenta com aromas tropicais, seco e vibrante e com o final a fazer lembrar frutos secos. Ainda provamos o Adega Mayor Viozinho e o Adega Mayor Antão Vaz, dois monocasta brancos que completam a gama mas que são ofuscados pelo Altitude, deveríamos ter feito a prova ao contrário.

O dia já ia longo, os sentidos bombardeados por aromas e sabores de vinhos brancos, decidimos mudar para os tintos e voltar às ilhas. Visitamos o stand Terras do Avô, produtor madeirense que nos propôs o Terras do Avô Tinto e o Terras do Avô Tinto Grande Escolha. O primeiro distingue-se pelos aromas a chocolate, o segundo muito mais aveludado e seco, feito com Syrah, tem taninos poderosos e notas finais de madeira. Tempo ainda para terminar a prova com o Terras do Avô Espumante branco, bastante aromático com distintas notas de frutos tropicais e alguma mineralidade. É fresco e vibrante. É uma pena não vermos os vinhos das ilhas com maior frequência no continente.

Para terminar o dia, regresso ao stand dos Irmãos Maçanita onde nos foi dado a provar três tintos do Douro, o Touriga Nacional Cima Corgo, o Touriga Nacional Letra A, e As Olgas. Se nos primeiros dois a ideia seria distinguir a diferença de vinhos da mesma casta, mesma região mas de terroirs diferentes, o último foi para fechar o dia com chave de ouro, num grande tinto do Douro, com aromas de especiarias e ervas aromáticas, muito aveludado e suave com final prolongado. Um excelente vinho.

Pelo meio houve ainda outras provas, mas das quais não ficaram notas. Foi assim que terminou a nossa visita, com um vinho que podia ser por si só uma refeição completa. Para o ano há mais.