A região do Vinho Verde é provavelmente uma das regiões vinícolas mais estigmatizadas em Portugal. Existe, ainda, o mito completamente errado de que os vinhos desta região são extremamente ácidos, de baixa qualidade e que, entre outras falsas crenças, provocam azia. Tal mito só pode ter origem no desconhecimento, pois atualmente a região do Vinho Verde dá origem a alguns dos vinhos mais vibrantes e frescos do nosso país com base nas castas Alvarinho, Loureiro e Trajadura nos brancos, Espadeiro e Vinhão nos tintos.
No entanto na sub região de Monção e Melgaço a casta Alvarinho atinge o seu expoente máximo e é claramente a casta rainha. Diz-se que origem da casta é aqui. A região está protegida da influência atlântica pelas várias serras que se dispõe em círculo e é composta por solos predominantemente graníticos. Aqui, o Alvarinho é normalmente trabalhado em vinhos monocasta, os aromas são tipicamente muito frutados, frescos e com alguma mineralidade, de acidez acentuada e final vibrante o que resulta em vinhos de perfil jovem e prontos a consumir, embora hoje existam produtores que apostam em vinhos com algum potencial de guarda e que estão a experimentar outros perfis com muito sucesso.
Museu do Alvarinho em Monção
Palácio da Brejoeira em Monção
Quinta de Soalheiro em Melgaço
Seguindo viagem para nordeste, chegamos em poucos minutos à vila de Melgaço, bem no norte de Portugal (Cevide, aldeia pertencente a Melgaço é o local mais a norte de Portugal continental). A imponente torre medieval domina a paisagem da vila de Melgaço e as vinhas de Alvarinho são mais uma vez, o ponto comum da paisagem em volta.
Nos arredores da vila de Melgaço, uma adega de design moderno destaca-se na paisagem. É a adega da Quinta de Soalheiro, outro nome grande da região dos Alvarinhos. Aqui a modernidade dos processos e a experimentação é aliada ao respeito pelas tradições e ao amor pela casta rainha.
A visita à adega é das experiências mais completas que se podem encontrar no nosso país, onde existe tempo e espaço para conhecer a história da família que está à frente da quinta, da região, dos diferentes vinhos e dos processos de vinificação, terminando com uma prova comentada, tudo com um tratamento personalizado, digno das melhores práticas turísticas. Nesta prova fomos presenteados pelo Soalheiro (Clássico) Alvarinho, colheita de 2021, jovem, frutado, acidez equilibrada, apto para pratos leves ou a solo. Seguimos para o Soalheiro Reserva, igualmente frutado mas com algumas notas de madeira, mais untuoso, encorpado e gastronómico de boa acidez. Experimentamos depois o Soalheiro Espumante Bruto Alvarinho, uma excelente surpresa ver esta casta a ser utilizada em vinhos espumantes, igualmente muito frutado, ácido e especialmente vibrante, a pedir pratos sofisticados de peixe ou pratos asiáticos. Provamos ainda o Soalheiro Pet Nat Alvarinho, uma boa experiência com este método ancestral de fermentação em garrafa, turvo onde o aroma das leveduras sobressai mas que termina frutado e agradável. Finalizamos esta grande prova com o Soalheiro Oppaco, o único tinto da aventura por Monção e Melgaço, feito com Vinhão, Alvarinho e Pinot Noir. Não é o típico Vinho Verde tinto, pelo contrário, apresenta uma cor rubi brilhante, com aromas de frutos vermelhos e especiarias, elegante na boca com harmonia entre acidez e taninos, final médio e agradável.
Finalizamos a visita à Quinta de Soalheiro com a compra de mais algumas referências na loja para provar em casa. Uma excelente experiência enoturística que está entre o que de melhor se faz em Portugal.