Visita a Monção e Melgaço

A região do Vinho Verde é provavelmente uma das regiões vinícolas mais estigmatizadas em Portugal. Existe, ainda, o mito completamente errado de que os vinhos desta região são extremamente ácidos, de baixa qualidade e que, entre outras falsas crenças, provocam azia. Tal mito só pode ter origem no desconhecimento, pois atualmente a região do Vinho Verde dá origem a alguns dos vinhos mais vibrantes e frescos do nosso país com base nas castas Alvarinho, Loureiro e Trajadura nos brancos, Espadeiro e Vinhão nos tintos. 

No entanto na sub região de Monção e Melgaço a casta Alvarinho atinge o seu expoente máximo e é claramente a casta rainha. Diz-se que origem da casta é aqui. A região está protegida da influência atlântica pelas várias serras que se dispõe em círculo e é composta por solos predominantemente graníticos. Aqui, o Alvarinho é normalmente trabalhado em vinhos monocasta, os aromas são tipicamente muito frutados, frescos e com alguma mineralidade, de acidez acentuada e final vibrante o que resulta em vinhos de perfil jovem e prontos a consumir, embora hoje existam produtores que apostam em vinhos com algum potencial de guarda e que estão a experimentar outros perfis com muito sucesso.

Museu do Alvarinho em Monção

Monção é o centro da acção da sub região. Grande parte da atividade da vila amuralhada e com vista para o Rio Minho gira em torno do Alvarinho e da excelente gastronomia local. Não é por isso surpreendente que o Museu do Alvarinho fique localizado em plena praça central, de portas abertas a quem o queira visitar. A exposição foca o terroir, a história e o ciclo do Alvarinho, mas é também a ponto de partida para provas. É possível fazer a prova de Alvarinhos na sala de provas do museu e perceber as subtilezas aromáticas e gustativas dos diferentes processos de vinificação.



Na nossa prova tivemos a oportunidade de degustar o Casa Capitão Mor Alvarinho, um vinho de cor cítrica cristalina e de aromas tropicais e minerais, seco, encorpado mas aveludado, com alguma acidez de final curto e vibrante. Seguimos para o Quinta da Pedra Alvarinho 2016 que mostra untuosidade no copo, revela aromas de frutos tropicais e alguma maçã e apresenta-se encorpado e acetinado na boca com um final curto mas agradável, muito gastronómico. Finalizamos com o Quinta de Alderiz Alvarinho, um perfil novamente mais jovem, aromas frutados a fazer lembrar pêssego e também algum vegetal, boa acidez e final curto mas com persistência dos frutos frescos.




No fim, os copos da prova são oferta da casa, estão incluídos no custo da prova, e uma boa recordação de um acolhimento de excelência.

Palácio da Brejoeira em Monção

O ex-libris de Monção é um imponente palácio em estilo neoclássico do início do séc. XIX rodeado de bosques e vinhas que dá nome a um dos mais famosos Alvarinhos de Monção, o Palácio da Brejoeira. Embora a história do palácio atravesse vários séculos de história, a história do Alvarinho da Brejoeira é recente e começa nos anos 70 pela mão de Maria Hermínia Paes, uma das figuras mais relevantes da região e importante personalidade na divulgação da casta Alvarinho.


O Alvarinho do Palácio da Brejoira revela o perfil típico de Monção e Melgaço: frutado, fresco, jovem, com alguma acidez e pronto a ser consumido. Outro produto da casa são as aguardentes vínicas de Alvarinho envelhecidas em carvalho. Sem dúvida uma bandeira da região.


Quinta de Soalheiro em Melgaço

Seguindo viagem para nordeste, chegamos em poucos minutos à vila de Melgaço, bem no norte de Portugal (Cevide, aldeia pertencente a Melgaço é o local mais a norte de Portugal continental). A imponente torre medieval domina a paisagem da vila de Melgaço e as vinhas de Alvarinho são mais uma vez, o ponto comum da paisagem em volta. 

Nos arredores da vila de Melgaço, uma adega de design moderno destaca-se na paisagem. É a adega da Quinta de Soalheiro, outro nome grande da região dos Alvarinhos. Aqui a modernidade dos processos e a experimentação é aliada ao respeito pelas tradições e ao amor pela casta rainha. 

A visita à adega é das experiências mais completas que se podem encontrar no nosso país, onde existe tempo e espaço para conhecer a história da família que está à frente da quinta, da região, dos diferentes vinhos e dos processos de vinificação, terminando com uma prova comentada, tudo com um tratamento personalizado, digno das melhores práticas turísticas. Nesta prova fomos presenteados pelo Soalheiro (Clássico) Alvarinho, colheita de 2021, jovem, frutado, acidez equilibrada, apto para pratos leves ou a solo. Seguimos para o Soalheiro Reserva, igualmente frutado mas com algumas notas de madeira, mais untuoso, encorpado e gastronómico de boa acidez. Experimentamos depois o Soalheiro Espumante Bruto Alvarinho, uma excelente surpresa ver esta casta a ser utilizada em vinhos espumantes, igualmente muito frutado, ácido e especialmente vibrante, a pedir pratos sofisticados de peixe ou pratos asiáticos. Provamos ainda o Soalheiro Pet Nat Alvarinho, uma boa experiência com este método ancestral de fermentação em garrafa, turvo onde o aroma das leveduras sobressai mas que termina frutado e agradável. Finalizamos esta grande prova com o Soalheiro Oppaco, o único tinto da aventura por Monção e Melgaço, feito com Vinhão, Alvarinho e Pinot Noir. Não é o típico Vinho Verde tinto, pelo contrário, apresenta uma cor rubi brilhante, com aromas de frutos vermelhos e especiarias, elegante na boca com harmonia entre acidez e taninos, final médio e agradável. 

Finalizamos a visita à Quinta de Soalheiro com a compra de mais algumas referências na loja para provar em casa. Uma excelente experiência enoturística que está entre o que de melhor se faz em Portugal.

Região de gente boa

Embora o vinho seja o resultado das castas, terroir, clima e processo de vinificação, é a gente que o trabalha que lhe dá a alma. Em Monção e Melgaço isso está bem visível, existe uma gentileza e respeito pela terra que é o sustento das famílias onde a vinha e o vinho sempre tiveram um papel importante como factor de diversificação das culturas. Centenas ou até mesmo milhares de pequenos produtores dão corpo a uma identidade própria, onde a proximidade com Espanha e a necessidade de manter vincados os traços da cultura e dos costumes do Alto Minho se transmitem nos excelentes vinhos que esta região é capaz de produzir. Fica ainda muito por dizer e por conhecer, existem muitos mais produtores que queremos visitar, nomeadamente Anselmo Mendes e Márcio Lopes que muito têm feito pela inovação e divulgação dos vinhos da casta Alvarinho e para mudar a percepção injusta de que esta região ainda tem junto de algumas opiniões menos informadas. Ficará para uma próxima visita.